CL Produções
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Arte parada no ar
A espera
Momento avassalador para nós produtores que tínhamos projetos em andamento e uma programação para 2020 que foi suspensa, temporariamente, por conta da pandemia.
Agora os teatros estão vazios. Foram os primeiros a serem fechados e, provavelmente, os últimos que reabrirão suas portas.
Sem público não há teatro. Por isso sinto saudades do burburinho da plateia, da correria dos bastidores e da espera do terceiro sinal para que a magia tome conta do palco e faça o público rir e se emocionar.
Estamos em isolamento e buscando novas possibilidades para retomar nosso ofício, mesmo que virtualmente. Devemos estrear, em breve, um monólogo com o ator Thadeu Perone que estou produzindo e dirigindo. O processo se iniciará com uma curta temporada versão Live e, planejamos, levar este projeto para o palco.
Enquanto isso, a incerteza e a espera nos fragilizam. Mas o amor à arte também nos une e nos fortalece. Não. Não estou só!
O público logo irá entrar e essas poltronas vazias ao meu redor estarão cheias de vida e de calor humano novamente! E quando voltarmos ao “novo normal”, então seguirei para a coxia iniciando mais uma noite de trabalho. Vai passar! A arte resiste!
Cícero Lira
Dir. CL Produções
Manifesto
Arte parada no ar
O perigo vem pelo ar
O simples respirar é um risco
Estamos em suspenso
Atônitos
Parados
Se antes ofegantes
pelos tempos sombrios da política,
agora interrompemos a inspiração
Nosso ofício
marcado pelo encontro de pessoas
parou
Artistas isolados
Os primeiros a parar
Sem saber quando poderemos voltar
Nossos palcos cobertos de poeira
Refletores no escuro
Exposições com quadros no chão
Músicos sem plateia
Picadeiros sem graça
Sapatilhas guardadas
Livros inéditos
Câmeras desligadas
Registramos nosso momento em imagens e textos.
Criamos, sim, dentro dos limites deste novo normal
que ainda não imaginamos
nem nas distopias mais futuristas
Um rascunho
Um ensaio aberto
Um improviso
Um respiro
mediado por telas digitais
e máscaras
Arte parada no Ar
Um retrato
e um desabafo
de criadores que resistem
Arte parada no ar é um manifesto em construção.
Nossa inspiração vem do texto “Um grito parado no ar”, de Gianfrancesco Guarnieri. A peça estreou em 1973 em Curitiba, com direção de Fernando Peixoto. A obra driblou a vigilância da ditadura de então ao usar de uma linguagem metafórica para discutir os problemas sociais. O drama fala sobre as dificuldades de se fazer arte em um tempo de repressão.