#episódio 21
Por que eu não li antes é um projeto literário digital que apresenta obras de autoras brasileiras negras para o público, acompanhadas de uma discussão com especialistas no assunto sobre os motivos que fazem com que tais livros não estejam mais presentes na vida dos leitores. Reuniremos autoras, especialistas e debatedores em uma série de cinco podcasts, os quais serão reunidos em um site com informações adicionais sobre as obras apresentadas, estudos complementares e outros títulos relevantes sobre o tema.
A obra: A cor da ternura
A obra tem cunho autobiográfico, aborda a infância da autora – pobre, sofrida, permeada de preconceito. Era muito ligada à mãe quando pequena e aproxima-se das irmãs à medida que vai crescendo. A avó de Geni também tem importância na história, sempre contando à neta e à família a história de seu povo, trazendo valores e bens culturais. O livro traz uma história de amparo entre as mulheres, em especial as mulheres afrodescendentes, dando ênfase à importância delas na formação da família, buscando sempre suas verdadeiras raízes, ou seja, a cultura e a etnia. Além disso, é uma lição de humildade e resistência, sobre como viver em uma sociedade racista.
Contexto da época de publicação
A obra foi lançada em 1989. No Brasil, nesta data, houve a primeira eleição presidencial do país após a promulgação da Constituição Federal de 1988. Também nesse ano, na escala global, houve a queda do muro de Berlim, marcando a queda da Cortina de Ferro e o início da queda do comunismo na Europa Oriental e Central.
Importância da obra
Essa obra deixa representada a importância da mulher negra na formação da família, os seus problemas, a sua cultura, sem se deixar abater diante das dificuldades enfrentadas, indicando que a mulher negra é capaz de ultrapassar as indiferenças que eram barreiras para a sua afirmação na sociedade.
A autora
Geni Mariano Guimarães é professora, poeta e ficcionista brasileira, ativista e autora de 10 livros de poemas, contos e infantis. Nasceu na área rural do município de São Manoel-SP, em 08 de setembro de 1947.
Iniciou a carreira literária publicando poemas em jornais da cidade de Barra Bonita, no interior paulista. O primeiro livro, Terceiro filho, foi lançado em 1979. No início dos anos 1980, aproximou-se do grupo Quilombhoje e do debate em torno da literatura negra. Dedicou-se às questões sociais, principalmente no que se refere à afirmação da afrodescendência, chegando a candidatar-se para o cargo de vereadora de sua cidade, no ano 2000. Porém, não foi eleita. Em 1981, publicou dois contos nos Cadernos Negros (n. 4), assim como seu segundo livro de poesia, fortemente marcado pelos tons de protesto e de afirmação identitária. Em 1988, participou da IV Bienal Nestlé de Literatura, dedicada ao centenário da Abolição. No mesmo ano, a Fundação Nestlé publicou seu volume de contos Leite do peito. No ano seguinte, publicou a novela A cor da ternura, que recebeu os prêmios Jabuti e Adolfo Aisen.
Por que decidimos fazer esta série de podcasts?
Embora quase 50% da população brasileira declare-se como parda ou negra e as mulheres sejam a maioria em nosso país, isso não se reflete em absoluto na inserção dessa população no ambiente editorial. As mulheres negras publicadas e lidas no Brasil fazem parte de uma minoria assustadora quando verificamos os dados e conversamos com autoras e estudiosas do tema.
Dados revelados por um estudo da Universidade de Brasília (UnB) mostram que 93% da comunidade literária brasileira é composta de autores brancos. Desse percentual, 72% são homens. Na mesma UnB, o Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea mostra que, entre 2004 e 2014, apenas 2,5% dos autores publicados não eram brancos. No mesmo recorte temporal, só 6,9% dos personagens retratados nos romances eram negros, sendo que só 4,5% eram protagonistas da história.
Esses dados que mostram a exclusão da população negra – enquanto produtora de conteúdo – diante do processo editorial tornam-se ainda mais assustadores quando confrontados com os dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –, que mostram, hoje, no Brasil, que 54% da população brasileira é declarada como negra ou parda.
Apresentação: Luiz Andrioli e Walkyria Novaes.
Participação de:
- Luana Rodrigues: Mestra em Letras, professora da rede pública e privada, na cidade do Rio de Janeiro. É percussionista do grupo Moça Prosa, formado apenas por mulheres, oriundo da região da Pequena África/RJ, compositora, escritora, pesquisadora de literatura infantil afrorreferenciada pelo grupo África em Letrinhas e mãe do Inácio.
@luarodrigues83
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