Episódio #20
Por que eu não li antes é um projeto literário digital que apresenta obras de autoras brasileiras negras para o público, acompanhadas de uma discussão com especialistas no assunto sobre os motivos que fazem com que tais livros não estejam mais presentes na vida dos leitores. Reuniremos autoras, especialistas e debatedores em uma série de cinco podcasts, os quais serão reunidos em um site com informações adicionais sobre as obras apresentadas, estudos complementares e outros títulos relevantes sobre o tema.
A obra: Malungos&milongas
Publicada em 1988, a história retrata uma família negra constituída de quatro irmãos . A ideia da união dos irmãos de cor é reforçada pela palavra malungos, que significa “Nome que se davam mutuamente os negros escravos vindos da África no mesmo navio.”, segundo o Dicionário Online de Português ou “gíria falada pelos negros brasileiros durante a escravidão, ‘companheiro’, pessoa da mesma condição”, segundo a Wikipédia. Na obra, a forte ligação dos irmãos será abalada pelas milongas: mexericos, intrigas. Carlos, Marta, Mauro e Ruth trabalhavam em uma mesma empresa. O “boato” que corria pelos corredores do departamento de que apenas um dos negros seria promovido ao cargo de gerente-executivo instaura a discórdia entre eles. A competição é acirrada pelos mexericos do chefe imediato, Sr. Eduardo, que havia sido preterido por Ruth. A desestruturação familiar torna-se inevitável e, como representantes da imensa diáspora negra espalhada pelo mundo, cada um dos irmãos segue o seu caminho.
Contexto da época de publicação
Em 1988, foi promulgada a nova Constituição do Brasil, sendo a primeira após o fim do período ditatorial, que compreendeu os anos de 1964 até 1985. Como exemplo de avanço a partir desta constituição, houve o reconhecimento das culturas indígena e afro-brasileira como parte da cultura nacional, conforme estabelecido no artigo 215.
Dois dias antes da promulgação da Constituição, houve a aprovação (313 votos a 5), pela Assembleia Nacional Constituinte, do fim da censura e da tortura, além da liberdade de expressão intelectual e de imprensa no país.
Importância da obra
A obra foi publicada no centenário da Abolição da Escravidão, o que manifesta a condição dos afrodescendentes no contexto da obra, além do tom militante usado pela autora no decorrer do livro.
A autora
Na década de 1980, foi uma das únicas mulheres a integrar as discussões do 1º e do 2º Encontros de Poetas e Ficcionistas Negros Brasileiros. Em 13 de maio de 1988, dia do centenário da Abolição da Escravatura, Esmeralda publicou o volume de contos Malungos e Milongas. Os contos têm um tom militante que denuncia a discriminação devido à cor da pele dos personagens.
Por que decidimos fazer esta série de podcasts?
Embora quase 50% da população brasileira declare-se como parda ou negra e as mulheres sejam a maioria em nosso país, isso não se reflete em absoluto na inserção dessa população no ambiente editorial. As mulheres negras publicadas e lidas no Brasil fazem parte de uma minoria assustadora quando verificamos os dados e conversamos com autoras e estudiosas do tema.
Dados revelados por um estudo da Universidade de Brasília (UnB) mostram que 93% da comunidade literária brasileira é composta de autores brancos. Desse percentual, 72% são homens. Na mesma UnB, o Grupo de Estudos em Literatura Brasileira Contemporânea mostra que, entre 2004 e 2014, apenas 2,5% dos autores publicados não eram brancos. No mesmo recorte temporal, só 6,9% dos personagens retratados nos romances eram negros, sendo que só 4,5% eram protagonistas da história.
Esses dados que mostram a exclusão da população negra – enquanto produtora de conteúdo – diante do processo editorial tornam-se ainda mais assustadores quando confrontados com os dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística –, que mostram, hoje, no Brasil, que 54% da população brasileira é declarada como negra ou parda.
Apresentação: Luiz Andrioli e Walkyria Novais.
Participação de Esmeralda Ribeiro.
@escritoraesmeraldaribeiro
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