O Dia da Consciência Negra é celebrado anualmente no Brasil em 20 de novembro, em homenagem a Zumbi dos Palmares, líder do quilombo dos Palmares e símbolo da resistência negra contra a escravidão. A data busca promover reflexões sobre a história, cultura e contribuições dos afrodescendentes para a sociedade brasileira. É um momento crucial para discutir e combater o racismo estrutural, promover a igualdade racial e destacar a importância da diversidade e da inclusão.
Neste dia, diversas atividades são realizadas em todo o país, incluindo palestras, debates, exposições, apresentações culturais e manifestações artísticas que visam sensibilizar a população sobre a necessidade de construir uma sociedade mais justa e igualitária. O Dia da Consciência Negra é uma oportunidade para reforçar o compromisso com a promoção da equidade racial e o respeito à diversidade, reconhecendo a importância de reconstruir narrativas históricas mais precisas e inclusivas.
Por isso, selecionamos sete obras literárias para uma educação antirracista.
Pequeno manual antirracista – Djamila Ribeiro
Neste guia conciso, a filósofa e ativista Djamila Ribeiro explora temas como a atualidade do racismo, a negritude, a branquitude, a violência racial, a cultura e os afetos. Em onze capítulos breves e impactantes, a autora oferece reflexões para quem busca compreender discriminações raciais estruturais e assumir a responsabilidade pela mudança. Reconhecendo que o racismo está enraizado na sociedade, Djamila destaca a urgência da prática antirracista, argumentando que essa transformação acontece nas ações cotidianas de todos nós. É uma luta que diz respeito a cada indivíduo e exige atenção imediata.
Quarto de despejo – Maria Carolina de Jesus
O diário de Carolina Maria de Jesus emerge como um autêntico paradigma de literatura-verdade, proporcionando um relato minucioso da vida cotidiana de uma mulher que se sustenta como catadora de papel na favela do Canindé, situada em São Paulo. Nesse contexto de extrema pobreza e desigualdade, a obra delineia vividamente a batalha diária contra a miséria, a violência e a fome que permeiam seu cotidiano. Apesar de ter sido escrito na década de 1950, o livro conserva uma relevância contundente nos dias atuais, evidenciando que as questões sociais e econômicas por ele abordadas continuam lamentavelmente pertinentes.
Amoras – Emicida
Em sua estreia literária infantil, Emicida apresenta uma narrativa simples e poética, destacando a importância de encontrar nossa identidade nos detalhes do mundo. Inspirado pela canção “Amoras”, onde canta “Que a doçura das frutinhas sabor acalanto / Fez a criança sozinha alcançar a conclusão / Papai que bom, porque eu sou pretinha também”, o renomado artista brasileiro, conhecido por sua influência, oferece, por meio do seu livro, uma mensagem sobre o orgulho de quem somos desde a infância até toda a vida, com ilustrações envolventes de Aldo Fabrini.
Sem gentileza – Futhi Ntshingila
No contexto do apartheid, nos guetos da África do Sul, mãe e filha enfrentam a árdua tarefa de sobreviver em um ambiente marcado pela pobreza e pelo temor da aids. Este romance não apenas narra uma história de triunfo sobre adversidades cruéis, mas também descreve a jornada de emancipação pessoal de uma mulher orgulhosa e de uma jovem que é forçada a amadurecer prematuramente. Confrontadas por uma sociedade machista que busca anular suas existências, Zola e Mvelo travam uma batalha para que suas vozes sejam finalmente ouvidas.
Autobiografia de Martin Luther King – Martin Luther King & Clayborne Carson
Martin Luther King, um dos maiores ícones na busca por igualdade, justiça e paz, liderou uma revolução transformadora nos Estados Unidos, deixando um impacto global duradouro. Sua abordagem de resistência e transformação social por meio da não violência foi reconhecida com o Prêmio Nobel da Paz em 1964. Utilizando um arquivo inédito de textos autobiográficos, incluindo cartas e diários não publicados do próprio King, juntamente com filmes e gravações, Clayborne Carson, historiador da Universidade Stanford e diretor do Martin Luther King Jr. Research and Education Institute, cria um retrato íntimo e inesquecível desse líder extraordinário. “Inestimável e valioso. King era consistentemente eloquente e refinado, um mestre da palavra e do impacto, detentor de uma voz inconfundível e autêntica.”
Hibisco roxo – Chimamanda Ngozi Adichie
“Hibisco Roxo” de Chimamanda Ngozi Adichie é um romance que entrelaça autobiografia e ficção para oferecer uma perspectiva sensível e surpreendente sobre a sociedade nigeriana contemporânea. A história é centrada em Kambili, narradora e protagonista, cuja vida é afetada pela religiosidade opressiva de seu pai, um influente industrial. O livro explora a luta da família contra as imposições religiosas, enquanto proporciona um retrato contundente e original da Nigéria moderna, destacando os resquícios coloniais presentes no país e em todo o continente africano.
Mulheres, raça e classe – Angela Davis
“Mulheres, Raça e Classe”, a obra seminal de Angela Davis, oferece um panorama histórico e crítico que interliga as lutas anticapitalista, feminista, antirracista e antiescravagista, explorando também os desafios contemporâneos enfrentados pelas mulheres. O livro é considerado um clássico da interseccionalidade, destacando as complexas relações entre gênero, raça e classe. Angela Davis desloca perspectivas convencionais, centrando a atenção no papel crucial das mulheres negras na resistência contra as explorações persistentes. Sua abordagem reexamina a realidade brasileira, contribuindo para o entendimento das questões de desigualdade, discriminação e pobreza. A tradução dessa obra pela Boitempo é uma valiosa contribuição, oferecendo uma perspectiva pouco explorada em meio aos estudos sobre a complexidade da realidade brasileira. Em tempos desafiadores, a obra de Angela Davis ressoa como uma urgência política, lembrando-nos da importância de aprender com os clássicos para não reiniciar a história a cada ciclo.