Este episódio foi gravado com os estudantes do Colégio Estadual Professor João Loyola, em Curitiba, no dia 06 de outubro de 2022.
Homens à beira de um ataque de nervos
Por Jonatan Silva
Em um dos seus ensaios mais famosos, Um teto todo seu, a escritora britânica Virginia Woolf reflete sobre a presença e as oportunidades das mulheres na literatura. Segundo a autora de Orlando, poucas eram as escritoras antes do século XX porque elas estariam atarefadas com os afazeres domésticos e outras “obrigações femininas”. A solução, explica Woolf, seria oferecer possibilidades iguais às mulheres: um lugar calmo para pensar e escrever, e uma quantia razoável de dinheiro para que a escritora não precisasse trabalhar em outra função que não fosse a sua própria literatura.
Passados dois séculos, a discussão parece não ter mudado muito:uma sociedade altamente patriarcal ainda dá as normas do modus operandi do mundo. Homens e mulheres ainda têm funções sociais e emocionais muito bem estabelecidas e, quem quiser romper com esse círculo vicioso, enfrenta ampla resistência. Mulheres ainda são o sexo frágil, e homens continuar sem poder expressar as suas emoções. O documentário Precisamos falar com os homens?, de Ian Leite e Luiza de Castro, exibido para os estudantes do Colégio Estadual João Loyola, que integrou o projeto Rodas de Leitura: discussões sobre a masculinidade na literatura, usa essas “diferenças” como matéria-prima para debater as novas formas de ser e estar no mundo.
Questões como sensibilidade, medo, assédio e agressividade são discutidas a partir de olhares empáticos, que tentam estabelecer uma visão mais fraterna da sociedade, menos pragmática e estereotipadas. O documentário não está ancorado somente em seus entrevistados – peças fundamentais do projeto, obviamente –, mas na construção de um mosaico que percorre experiências pessoais e percepções a partir de estudos e pesquisas.
Sensibilidade e afeto
Em uma entrevista recente para a revista Bravo!, o cantor e compositor Tim Bernardes ecoou algumas das discussões que enxergamos em Precisamos falar com os homens?. Para Tim, e para os documentaristas Ian Leite e Luiza de Castro, a brutalidade em que a masculinidade foi erguida perpetua as desigualdades entre os gêneros, transformando a sociedade em uma competição, uma guerra de forças. “É uma pena que se manifeste tanto entre os homens esse estereótipo mais grosseiro, que não fala de sentimento, que não sabe elaborar esse tipo de coisa e acaba devolvendo pro mundo essa confusão própria de uma maneira truculenta, agressiva”, explicou Bernardes, cujo disco mais recente, Mil coisas invisíveis, mostra o eu-lírico de todas as canções como um homem sensível, tentando encontrar seu lugar no mundo por meio do afeto.
De maneira semelhante, Precisamos falar com os homens? encampa a celebração de uma afetividade que não depende de interesses – amorosos, sociais e sexuais etc – e sim de uma relação pura entre os diferentes sujeitos. O documentário é certeiro ao apresentar as consequências do machismo como engrenagem perpétua, que retém e escraviza homens e mulheres. Dizer que este é um filme urgente, é ser redundante, entretanto, em certas ocasiões o pleonasmo é bem-vindo. E essa é uma delas.