20 de abril de 2025

Desafios da Internet: como tratar o assunto em sala de aula

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Nos últimos anos, os chamados “desafios da internet” se tornaram uma presença constante no cotidiano de crianças e adolescentes. Como educadores, é fundamental compreender não só os riscos físicos, mas também os efeitos psicológicos, sociais e pedagógicos dessas práticas. Muitos desses desafios viralizam entre os estudantes, influenciando diretamente sua autoestima, seus vínculos e até mesmo sua relação com a escola.

Este texto aprofunda esse fenômeno e convida os professores a se colocarem como mediadores críticos nesse processo, criando espaços seguros de escuta e conscientização dentro e fora da sala de aula.

O que são os desafios da internet?

Os desafios da internet (ou online challenges) são ações propostas por vídeos ou postagens em redes sociais que convidam o público, em especial adolescentes, a replicar comportamentos que variam de triviais a extremamente perigosos. Em muitos casos, o desafio é associado a um “prêmio simbólico”: visualizações, curtidas, comentários e prestígio no grupo de pares.

Há desafios aparentemente inofensivos, como coreografias, testes de habilidades físicas ou desafios de culinária. No entanto, outros envolvem automutilação, ingestão de produtos tóxicos, brincadeiras com sufocamento ou exposição da intimidade.

Por que os adolescentes se engajam nesses desafios?

A adesão aos desafios tem raízes em características do próprio desenvolvimento adolescente:

  • Busca por pertencimento: A necessidade de aceitação pelo grupo é intensa nessa fase. Muitos adolescentes participam dos desafios por medo da exclusão ou para se sentirem integrados.
  • Construção da identidade: Os jovens usam as redes como espaço de experimentação da própria imagem e, muitas vezes, o desafio aparece como uma forma de “mostrar quem são” ou “testar limites”.
  • Impulsividade: A maturação cerebral ainda está em desenvolvimento na adolescência. Isso compromete o julgamento das consequências e amplia comportamentos impulsivos.
  • Carência de mediação crítica: A falta de diálogo com adultos e a ausência de repertório sobre o que circula nas redes fazem com que os adolescentes se tornem vulneráveis a conteúdos perigosos.

Os riscos não são só físicos: impactos na saúde mental

É comum que os educadores se preocupem com os riscos físicos — e com razão. Muitos desafios envolvem danos ao corpo e, em casos extremos, podem levar à morte. Mas o que nem sempre é evidente são os efeitos emocionais e psicológicos que essas práticas podem gerar.

Participar de um desafio arriscado — ou mesmo só assistir a esse tipo de conteúdo com frequência — pode provocar:

  • Ansiedade social: O medo de não se encaixar ou ser julgado por não participar aumenta o nível de ansiedade entre os estudantes.
  • Baixa autoestima: Ao comparar sua aparência, coragem ou “popularidade digital” com a dos colegas, o jovem pode sentir-se inferiorizado.
  • Exposição indevida: Muitos desafios envolvem se filmar em situações constrangedoras ou íntimas. O arrependimento posterior pode gerar vergonha, isolamento e, em alguns casos, sintomas depressivos.
  • Risco de autolesão ou ideação suicida: Quando a pressão social ou o bullying digital se somam a dificuldades pré-existentes, o adolescente pode desenvolver comportamentos autodestrutivos.

Por que a escola precisa agir?

A escola é o espaço privilegiado de construção de sentido. É nela que os estudantes convivem, aprendem a se posicionar diante do outro e a refletir criticamente sobre o mundo — inclusive sobre o universo digital.

Ignorar o que os alunos estão consumindo nas redes é perder a chance de educar para a cidadania digital. O papel da escola é formar sujeitos críticos, autônomos e conscientes de suas escolhas — inclusive no ambiente online.

Mais do que proibir, é preciso dialogar. Mais do que punir, é preciso compreender os motivos que levam os estudantes a buscar esse tipo de validação.

Dinâmicas e propostas pedagógicas

Veja algumas estratégias que professores e equipes pedagógicas podem aplicar:

  • Rodas de conversa estruturadas: Crie um espaço seguro para que os alunos falem sobre o que veem nas redes, quais desafios já conhecem e como se sentem em relação a isso.
  • Análise crítica de vídeos virais: Traga conteúdos populares para a sala e debata coletivamente: qual a intenção por trás? Quais os riscos? Quem se beneficia com isso?
  • Produção de conteúdos conscientes: Estimule os estudantes a criarem vídeos, posts ou cartazes com mensagens positivas, mostrando que também é possível viralizar fazendo o bem.
  • Campanhas escolares de conscientização: Organize junto aos alunos uma semana temática sobre “uso consciente da internet”, envolvendo diferentes turmas e áreas do conhecimento.
  • Formação para famílias: A escola pode organizar encontros com os responsáveis para compartilhar informações sobre o universo digital e os cuidados que precisam ser tomados em casa.

Para aprofundar com os alunos

🎬 Filmes e séries para refletir

O Dilema das Redes
Documentário forte e atual sobre os mecanismos das redes sociais e seus efeitos psicológicos. Excelente ponto de partida para debates em turmas do fundamental II e ensino médio.

Eighth Grade
Filme sensível sobre uma adolescente insegura e sua relação com a autoimagem nas redes. Ideal para estimular empatia e conversas sobre pressão social.

Black Mirror
Narrativa interativa que coloca o espectador como protagonista. Discute livre arbítrio, manipulação e escolhas digitais — pode ser usada para exercícios de análise crítica.

13 Reasons Why
Série polêmica que trata de bullying, depressão e redes sociais. Requer mediação cuidadosa, mas pode provocar reflexões importantes em projetos sobre saúde mental.

Anne with an E
Embora ambientada no século XIX, a série aborda pertencimento, identidade, exclusão e empatia — temas essenciais também no universo digital.


📺 Canais no YouTube

Manual do Mundo
Canal educativo que mistura ciência, curiosidades e bom humor. Pode ser usado para mostrar que é possível produzir conteúdo positivo e criativo online.

Safernet Brasil
Canal especializado em segurança digital. Oferece vídeos objetivos sobre temas como cyberbullying, privacidade online e cidadania digital.

🎧 Podcasts para educadores e estudantes

Mamilos – episódio “Crianças e redes sociais”
Episódio essencial para pais e professores refletirem sobre os desafios de educar em tempos de redes. Traz especialistas e histórias reais.

Tecnopolítica (LabJor/Unicamp)
Discute como as tecnologias digitais influenciam a política, o comportamento e a cultura. Indicado para professores que queiram ampliar o debate.

Prosa News | Newsletter do Grupo Prosa Nova.