Montenegro Produções
Iniciamos 2020 com uma equipe de mais de 30 profissionais envolvidos direta ou indiretamente nos projetos culturais que seriam realizados durante o ano. Por sua formatação em 10 ou 12 meses, característica dos nossos produtos, conseguimos abrir oportunidades de trabalho para produtores, jornalistas, pesquisadores, publicitários, atores, fotógrafos, cinegrafistas, figurinistas, contadores, advogados, cenógrafos, artistas, arquitetos, assistentes, captadores de recursos entre outros, a cada projeto captado.
Com a indefinição dos cenários, a ausência de respostas dos órgãos reguladores, a falta de acordos entre as esferas municipais, estaduais e federais e o travamento dos patrocínios, fomos obrigados a paralisar os planos e desenhar estratégias A, B e C, contemplando alterativas que minimizassem o impacto para todos. Infelizmente, 70% das atividades previstas foram interrompidas e conseguimos manter apenas 30% da equipe, ainda que com cachês reduzidos.
A primeira alternativa, o PLANO A foi alterar o formato de projetos que exigiam a presença do público para versões digitais. Espetáculos de teatro, contações de história, palestras com autores de livros e exposições de arte, seriam adaptados para vídeo, garantindo o prazo de execução dos projetos e maior audiência. Não faltaram defesas e justificativas consistentes e condizentes, mas todos os recursos foram negados pelo Ministério da Cidadania, argumentando que os objetos dos projetos não poderiam ser alterados. Conseguimos apenas ampliar o prazo de execução para 2021, transformando nossos projetos de 10 meses em 20 meses, com a mesma planilha aprovada há 3 ou 4 anos.
Seguimos então para o PLANO B, criando estratégias de comunicação para que os projetos em execução não ficassem “congelados no limbo” e tivessem sua argumentação e propósitos mantidos junto ao público e incentivadores, ainda que sem prazo de lançamento. Nessa etapa, lançamos canais de comunicação digitais, campanhas, concursos culturais e pequenas amostras multiplataformas do que traríamos ao encontro do público em breve. Com esse cenário, conseguimos remunerar uma parte da equipe e contribuir no fomento da produção artística, tão prejudicada nesse período.
Entramos agora no PLANO C, que ao meu ver representa a única alternativa viável para darmos continuidade aos objetivos propostos dentro do orçamento que temos, que não cabe uma ampliação de 6 meses de atividade. Estamos hoje desenhando alternativas para cumprir o objeto tal qual foi aprovado, priorizando as entregas prometidas aos patrocinadores, a qualidade das produções e a segurança do público. Entendemos que um processo de produção é contínuo e você não pode simplesmente fechar a torneira por um tempo. Se quisermos continuar, nossa única saída é fazer o melhor nas condições que temos.
Carolina Montenegro
Montenegro Produções
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Manifesto
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s.
O perigo vem pelo ar
O simples respirar é um risco
Estamos em suspenso
Atônitos
Parados
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pelos tempos sombrios da política,
agora interrompemos a inspiração
Nosso ofício
marcado pelo encontro de pessoas
parou
Artistas isolados
Os primeiros a parar
Sem saber quando poderemos voltar
Nossos palcos cobertos de poeira
Refletores no escuro
Exposições com quadros no chão
Músicos sem plateia
Picadeiros sem graça
Sapatilhas guardadas
Livros inéditos
Câmeras desligadas
Registramos nosso momento em imagens e textos.
Criamos, sim, dentro dos limites deste novo normal
que ainda não imaginamos
nem nas distopias mais futuristas
Um rascunho
Um ensaio aberto
Um improviso
Um respiro
mediado por telas digitais
e máscaras
Arte parada no Ar
Um retrato
e um desabafo
de criadores que resistem
Arte parada no ar é um manifesto em construção.
Nossa inspiração vem do texto “Um grito parado no ar”, de Gianfrancesco Guarnieri. A peça estreou em 1973 em Curitiba, com direção de Fernando Peixoto. A obra driblou a vigilância da ditadura de então ao usar de uma linguagem metafórica para discutir os problemas sociais. O drama fala sobre as dificuldades de se fazer arte em um tempo de repressão.