Fabiano Vianna
Curitiba imaginária
Existem duas Curitibas – a real, onde convivem serenamente as linhas retas e as curvas das estações tubo. E a outra – sonhada e labiríntica. Durante a quarentena, só é possível acessar a segunda. Os lugares queridos, agora, são recordações. O passado recente, desfocado, sugere novas interpretações simbólicas. Eu, que tantas vezes percorri as ruas e bairros desenhando com o Urban Sketchers, agora durmo e sonho com uma outra cidade. Imagino que o Bondinho da Leitura voa sobre o Teatro Guaíra, depois dá uma volta pelo centro onde o Zequinha passeia usando máscara. A mulher e o homem nu da Praça 29 também estão mascarados. Além do Zequinha, apenas os animais. Um vira-lata espera o sinal abrir para atravessar. Talvez a Curitiba da minha memória seja diferente da real. Transporto a fonte de Jerusalém para a Praça Tiradentes, coloco o Jardim Botânico dentro do Passeio Público, entorto a torre das telecomunicações. Zequinha é como um dos anjos da fonte; ou flâneur – coleciona imagens sem as tocar. Único passageiro do bondinho voador das quinze horas. E das dezesseis. Único passageiro de todas as horas. A águia de duas cabeças da Praça Zacarias dá rasantes na Emiliano, depois passa bem rente às janelas. Nesta Curitiba eu viajo, parafraseando nosso querido vampiro. Refaço os itinerários graficamente. Poty Lazzarotto também fez isso. Desenhar a cidade para que ela continue existindo.
Fabiano Vianna é ilustrador e membro do Urban Sketchers Curitiba
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Arte parada no ar
Manifesto
Arte parada no ar
O perigo vem pelo ar
O simples respirar é um risco
Estamos em suspenso
Atônitos
Parados
Se antes ofegantes
pelos tempos sombrios da política,
agora interrompemos a inspiração
Nosso ofício
marcado pelo encontro de pessoas
parou
Artistas isolados
Os primeiros a parar
Sem saber quando poderemos voltar
Nossos palcos cobertos de poeira
Refletores no escuro
Exposições com quadros no chão
Músicos sem plateia
Picadeiros sem graça
Sapatilhas guardadas
Livros inéditos
Câmeras desligadas
Registramos nosso momento em imagens e textos.
Criamos, sim, dentro dos limites deste novo normal
que ainda não imaginamos
nem nas distopias mais futuristas
Um rascunho
Um ensaio aberto
Um improviso
Um respiro
mediado por telas digitais
e máscaras
Arte parada no Ar
Um retrato
e um desabafo
de criadores que resistem
Arte parada no ar é um manifesto em construção.
Nossa inspiração vem do texto “Um grito parado no ar”, de Gianfrancesco Guarnieri. A peça estreou em 1973 em Curitiba, com direção de Fernando Peixoto. A obra driblou a vigilância da ditadura de então ao usar de uma linguagem metafórica para discutir os problemas sociais. O drama fala sobre as dificuldades de se fazer arte em um tempo de repressão.