Os melhores livros de 2023, segundo os principais prêmios literários

20 de dezembro de 2023

Os melhores livros de 2023, segundo os principais prêmios literários

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O escritor João Gilberto Noll, morto em 2017.

Quem acompanha a Prosa Nova sabe quem aqui gostamos de uma boa leitura. Por isso, selecionamos 10 livros que foram destaque em prêmios ao longo de 2023. Todas as obras a seguir integraram as principais premiações brasileiras ou em língua portuguesa neste ano.

Confira a lista:

Desmoronamentos, de Micheliny Verunschk

Desmoronamentos apresenta 16 narrativas breves em que protagonistas femininas compartilham suas histórias a partir das ruínas que envolvem as cidades brasileiras, ou mesmo do genocídio perpetrado pelo contínuo e prolongado projeto de destruição que assola nosso país. Esse fenômeno, conhecido há tempos, encontra sua expressão estética mais marcante na conjuntura governamental atual. Este livro não apenas representa a nossa incursão nesse gênero literário, mas também marca a estreia da autora no campo da narrativa breve de ficção, os contos.

Educação natural: Textos inéditos e póstumos, de João Gilberto Noll

Educação Natural, obra póstuma de João Gilberto Noll, reúne textos inéditos encontrados em seu arquivo de computador após sua morte em 2017. Composta por 26 contos e o fragmento de um romance inacabado, a coletânea aborda temas característicos da obra de Noll, como a tragicidade da vida e a transformação do corpo. Organizados por Edson Migracielo, os contos exploram situações envolvendo personagens à deriva, desgarrados e ansiosos por esquecer. Migracielo reflete sobre a natureza revolucionária dessas narrativas e destaca a importância do autor como pioneiro no tratamento das questões de gênero na literatura brasileira.

Penélope dos Trópicos, de Luciana Hidalgo

Penélope, uma arquiteta inquieta de 30 anos, percorre diariamente uma praia tropical, enfrentando a estranheza da sociedade ao seu redor, marcada pela violência da extrema direita. Com inteligência, coragem e humor, ela vive os absurdos de seu tempo, engajando-se em manifestações contra neofascistas, criando projetos utópicos para combater a desigualdade social e buscando o amor por meio de aplicativos de encontros. Inspirada na personagem clássica da Odisseia, Luciana Hidalgo desenvolve Penélope dos trópicos, uma protagonista forte e carismática que lida habilmente com questões femininas, feministas, políticas e existenciais da pós-modernidade. O romance, contemplado com dois prêmios Jabuti, destaca-se na literatura brasileira pela originalidade narrativa e pela potência da Penélope contemporânea, apresentando-a como uma heroína disposta a recorrer a deuses e mitos gregos em sua busca por autoconhecimento. A obra, escrita de maneira enxuta e bem-humorada, deixa uma marca duradoura na literatura nacional.

Outono de Carne Estranha, de Airton Souza

Outono de Carne Estranha, premiado com o Prêmio Sesc 2023, é um romance de Airton Souza que se desenrola em Serra Pelada, o maior garimpo a céu aberto do mundo na década de 1980. A história narra o amor entre os garimpeiros Zuza e Manel, em um cenário de brutalidade e ganância. Mesclando fatos históricos com ficção, a obra aborda a obsessão pelo ouro e a violência do garimpo, destacando a capacidade dos personagens de encontrar ternura e amor em meio à repressão. A narrativa, escrita com sensibilidade, explora dualismos entre o sagrado e o profano, a morte e o erotismo, apresentando um retrato íntimo e cativante de uma realidade pouco explorada na literatura brasileira.

Engenheiro fantasma, de Fabrício Corsaletti

Os 56 sonetos do livro Engenheiro Fantasma oferecem uma experiência única na poesia brasileira, combinando paixão, humor, melancolia, filosofia e delírio. Fabrício Corsaletti, autor de “Esquimó” e vencedor do Prêmio Bravo! de Literatura, assume a persona de Bob Dylan para narrar um suposto exílio voluntário do genial letrista em Buenos Aires, em algum momento deste século não especificado. Ao longo de 784 versos meticulosamente trabalhados, bairros, bares, cafés, lojas, museus e uma variedade de personagens surgem e desaparecem como em um truque de mágica. Embora haja referências à poesia de Dylan, a verdadeira magia está na surpreendente fusão das vozes dos dois poetas, criando uma terceira voz que registra as inesquecíveis aventuras portenhas.

O Ninho, Bethânia Pires Amaro

O Ninho, premiado com o Prêmio Sesc 2023 na categoria Conto, é o livro de estreia de Bethânia Pires Amaro. Com quinze contos, a obra mergulha nas complexidades das relações familiares, desmistificando a ideia de casa como um refúgio seguro. Bethânia aborda com maestria a miséria socioeconômica e a fragilidade das conexões íntimas, destacando personagens femininas que enfrentam adversidades como vícios, suicídios, maternidades disfuncionais, abusos e violências reais. A sensibilidade narrativa da autora revela a beleza imperfeita que emerge da tragédia cotidiana, acompanhada pela compaixão que suaviza o desespero inerente à convivência humana. Bethânia Pires Amaro é reconhecida como uma das melhores contistas da literatura brasileira, segundo Sérgio Rodrigues.

O Gosto Amargo dos Metais, de Prisca Agustoni

A obra, vencedora do Prêmio Oceanos, surge em resposta aos impactantes crimes ambientais ocorridos em Minas Gerais, inicialmente em Mariana e posteriormente em Brumadinho. Nessas tragédias, uma torrente de lama de rejeitos de mineração devastou bairros, ceifou centenas de vidas e poluiu o Rio Doce, um dos rios mais importantes do Brasil, tingindo-o de marrom. A autora, Prisca Agustoni (1975), uma poeta, tradutora e professora de literatura na Universidade Federal de Juiz de Fora, Suíça, reflete sobre esses eventos e as imagens chocantes que a lembraram de uma tragédia de proporções épicas, sinalizando um novo fim e, paradoxalmente, um estranho recomeço. Ela compartilha suas reflexões no prefácio do livro. Prisca Agustoni, nascida na Suíça e residente no Brasil, escreve e se autotraduz em italiano, francês e português.

Os Perigos do Imperador, de Ruy Castro

Combinando habilmente elementos de ficção e reconstituição histórica, Ruy Castro entrega um enredo envolvente em Os Perigos do Imperador, que rendeu a ele o Prêmio Jabuti 2023 na categoria Romance Literário. A trama se desenrola em 1876, quando D. Pedro II parte para os Estados Unidos em um vapor para celebrar o Centenário da Independência americana. Nesse contexto, Castro imagina uma conspiração antimonarquista, onde o imperador se torna alvo de um atentado fatal planejado por republicanos brasileiros.

Explorando eventos reais, o autor constrói um romance eletrizante, destacando personagens como o poeta Sousândrade, o repórter James O’Kelly, o editor Deoclecio de Freitas, e Leopoldo Ferrão, peça-chave na execução do plano, além do elenco da corte imperial. Ruy Castro, reconhecido pela sua versatilidade como escritor e biógrafo, recria com maestria a atmosfera do Brasil e dos Estados Unidos do século XIX. A narrativa intrigante, que intercala vozes do narrador com diários, cartas e reportagens, convida o leitor a questionar a verdade dos acontecimentos.

Poder camuflado, de Fabio Victor

“Militares na Política Brasileira: da Redemocratização a Bolsonaro”, premiado com o Prêmio Jabuti 2023 na categoria Biografia e Reportagem, é obra de Fabio Victor. Com amplo repertório de fontes inéditas, o livro narra a atuação política dos militares desde a reabertura democrática até a era Bolsonaro. Destacando a significativa presença militar nas eleições de 2018 e a aliança entre o Executivo e as Forças Armadas, o autor examina a politização crescente da caserna e a militarização da Esplanada. A permanência dos militares na política, um fenômeno que remonta à redemocratização, é apresentada como um dos maiores desafios para o equilíbrio institucional na sociedade brasileira, passando pelos governos desde Sarney até Bolsonaro.

Por Quem as Panelas Batem, de Antônio Prata

Por Quem as Panelas Batem, agraciado com o Prêmio Jabuti 2023 na categoria Crônica, é uma coletânea das crônicas políticas de Antonio Prata, publicadas na Folha de S.Paulo de junho de 2013 a fins de 2021. Com inteligência e bom humor, Prata oferece instantâneos do caos político da última década, descrevendo o livro como um “diário da queda”. Seus textos são um olhar pessoal e subjetivo sobre o desmantelamento social e político, apresentando, nas palavras do autor, “todos os recortes, vantagens e limitações do ponto em que me encontro no tecido social”.

Para além da perspicácia em revelar as misérias da experiência contemporânea, Prata mantém uma militância em defesa da poesia do cotidiano e do potencial maravilhoso da sociedade brasileira. Seus textos oscilam entre o pessimismo diante do caos representado pelo bolsonarismo e o otimismo, acreditando que isso possa ser “o grunhido do velho mundo, agonizante, sendo arrastado para o passado”. Revisitá-los, com o benefício do distanciamento temporal, proporciona não apenas prazer, mas também uma iluminação sobre os eventos passados.

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