Fatima Ortiz
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Arte parada no ar
Arte e cultura caminham de mãos dadas, embora tenham tamanhos diferentes. Pensar em cultura sem incluir a arte é impossível. Em tempos de pandemia o apreço à nossa cultura e o atendimento ao artista são ideias complementares. Os artistas trazem um ar mais agradável soprando poesia e alegria onde passam e é por meio da arte que podemos refletir, com mais liberdade ideológica, sobre as inúmeras dificuldades que esse tempo sombrio nos impõe. Vamos colaborar com os artistas que estão precisando de ajuda.
Fatima Ortiz
Diretora teatral e fundadora da escola de teatro Pé no Palco Atividades Artísticas.
Integrante do Movimento Arte Salva – União das Artes Cênicas de Curitiba e Região
Manifesto
Arte parada no ar
O perigo vem pelo ar
O simples respirar é um risco
Estamos em suspenso
Atônitos
Parados
Se antes ofegantes
pelos tempos sombrios da política,
agora interrompemos a inspiração
Nosso ofício
marcado pelo encontro de pessoas
parou
Artistas isolados
Os primeiros a parar
Sem saber quando poderemos voltar
Nossos palcos cobertos de poeira
Refletores no escuro
Exposições com quadros no chão
Músicos sem plateia
Picadeiros sem graça
Sapatilhas guardadas
Livros inéditos
Câmeras desligadas
Registramos nosso momento em imagens e textos.
Criamos, sim, dentro dos limites deste novo normal
que ainda não imaginamos
nem nas distopias mais futuristas
Um rascunho
Um ensaio aberto
Um improviso
Um respiro
mediado por telas digitais
e máscaras
Arte parada no Ar
Um retrato
e um desabafo
de criadores que resistem
Arte parada no ar é um manifesto em construção.
Nossa inspiração vem do texto “Um grito parado no ar”, de Gianfrancesco Guarnieri. A peça estreou em 1973 em Curitiba, com direção de Fernando Peixoto. A obra driblou a vigilância da ditadura de então ao usar de uma linguagem metafórica para discutir os problemas sociais. O drama fala sobre as dificuldades de se fazer arte em um tempo de repressão.